Algo em torno de dezesseis e quarenta e dois da tarde e o ônibus da empresa Motta cruza o oeste paulista. A poltrona, além da ausência do cinto de segurança, não deixa a perna esticar por completa, provocando uma irritação constante, o melhor então é se desprender e se fixar na paisagem. O sol nessa época do ano desce de forma suave e deixa a planície com um tom amarelado que enche os olhos de admiração e o motorista de cautela. O mp4 já sem carga suficiente te deixa na mão, e para evitar o tédio os pensamentos e as palavras vão sendo organizadas e quase sempre uma poesia ou mesmo uma letra, mesmo que tímida, de uma nova canção ganha espaço.
Fagulhas de lembranças sempre aparecem para confeitar o que se vai aos poucos se construindo. O trajeto se divide, a baldeação fora feita e algumas placas indicavam a aproximação de São José do Rio Preto. Destino, Uberlândia, ponto de partida Narandiba. Sim, Narandiba, esse pequeno cisco geográfico paulista com pouco mais de quatro mil habitantes que deixa até mesmo o programa Word confuso e sem sugestão ortográfica, fica a apenas trinta e seis quilômetros de Presidente Prudente.
A terra onde existem muitas laranjas [tradução tupi guarani] possui suas particularidades e paradoxos. Há nela, um misto de hospitalidade e mal entendidos constantes, oito restaurantes e uma sanduicheria que trás em seu cardápio além do clássico x-tudo a italianíssima pizza à moda da casa, e não se assustem, regrada a um bom azeite Galo. O acesso não é difícil, a estrada um pouco esburacada e sinuosa ganha uma sensação de labirinto, com os paredões dos canaviais que se estendem pelo trajeto e que não é um privilégio local, a terra roxa paulista ultimamente pode até ter assobiado pouco, mas com certeza tem chupado muita cana.
Esse micro-cosmos que puxa o R com certa facilidade, que trás a calma estampada no rosto e que tem praticamente 100% do esgoto tratado, vive um momento próprio, resultado da instalação de duas usinas de álcool nas suas dependências, Cocal e Biofuel Energy.
Não vou repetir aqui incessantemente a nota dó do piano de cauda atendo-me em discussões que se referem ao problema ecológico que está diretamente ligado à implantação das usinas, é evidente que acredito nas suas conseqüências futuras. Gostaria na verdade, dentro de meu imediatismo contemporâneo, compartilhar um problema muito mais real e palpável que aflige principalmente as donzelas narandibenses.
Associada a produção da cana, houve uma explosão demográfica de homens, italifico o gênero, na cidade que vieram dos quatro cantos do país atrás de trabalho e dignidade. Não os culpo por isso, mas o fato é que não há mulher suficiente para tanto homem assim, o que vem causando preocupações e ataques desesperados constantes. Hormônios em alta, o caos sexual está posto, e a cana que tanto tira o sono de biólogos e economistas, passa a preocupar mais ainda, pais, padres, parteiras e claro, as moças da vida. E olha, nem mesmo chegamos na entressafra.
carlos segundo