No meio do nada, agachado, roçava com ambas as mãos a terra do chão. A cova ia sendo construída aos poucos. O suor escorria pela sua testa e hora ou outra era espalhado com as costas da mão. A terra ainda úmida, a chuva havia caído a pouco, preenchia os espaços da unha enquanto ele aumentava gradativamente a fúria de sua escavadeira. Começou a chorar repentinamente e não conseguiu mais parar. Olhou novamente para o lado, precisava ter certeza que ninguém estava a observá-lo, não desejava que alguém tomasse posse daquela maldição. Sentia-se um lobo, um animal que precisa esconder sua preza.
Rapidamente jogou tudo lá dentro, mais rápido ainda cobriu a cova. Deitado, ao lado da sepultura, sorriu olhando para o céu. As gargalhadas podiam ser ouvidas ao longe, ele se sentia feliz... Em sua mente nada, um deserto, o fosso infinito. Então levantou, a roupa imunda de terra. Olhou para si sem saber muito o porquê, então sentiu medo, não sabia porque estava ali, não sabia para onde ir, não sabia de nada nem de ninguém. Levantou a cabeça e seguiu, sem olhar pra trás, sem destino, sem sequer um objetivo na mente, sem futuro.
O passado só existe porque temos memória, porque guardamos em nós grande parte do que vivemos, pois se não, tudo passaria a ser constantes presentes e ficções, viveríamos uma eterna ficção. Quando chegou àquele lugar ele estava decidido a tudo, sentia-se ectópico em relação ao mundo e não queria mais aquela maldição, não queria mais sua vida, tudo que passou e sofreu, não se lembrava de um ínfimo momento de felicidade, precisava ser livre do seu passado e ao mesmo tempo se desvencilhar do futuro , então cavou, cavou, e ali depositou tudo; vida, pesadelos, cristianismos e culpas, abandonou sonhos e pesadelos, e outras coisas mais que agora não se lembra.
Conta-se que ali, naquele mesmo local nasceu há muito tempo atrás uma planta com frutos, que foi assim chamada de pequi. E a lenda diz mais, que o fato dessa fruta ser como é, está associada a maldição sucumbida no lugar, uma fruta de muitos espinhos e boa pra memória. [cultura inútil]
carlos segundo
cultblog.com.br
31_03_09
7 comments:
memoria dos sentidos.
te amo mto
Seus contos não são contos:
são roteiros prontos.
Assisti ao '26 de dezembro', excelente. A fantasia, na realidade, não é um conto de fadas.
Parabéns.
Abraços.
Curtt
Prezado Carlos,
Gostaria de saber como posso ter acesso ao documentário sobre o Afonso Celso. Estou terminando meu mestrado na UFMG sobre o COLINA e creio que poderá me ser muito útil.
Att
Isabel Leite
ic.leite@yahoo.com.br
Olá Carlos,
não sabia que vc escrevia... Parabéns! Achei bem interessante!
Abs,
Claudia Farnesi
www.claudiafarnesi.com.br
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